O Chapéu Aventureiro.

Um episódio que resultou no extravio do chapéu do Davi, inspirou uma história infantil, que logo queremos publicar em livro. 

Era uma vez um chapéu.

Não era como todos chapéus. Era especial, tipo aqueles chapéus de aventureiros, de pano resistente, e com botões na sua lateral para levantar suas abas. Ele nasceu junto com seus irmãozinhos na cidade de Santa Cruz do Capibaribe, no interior de Pernambuco, em uma das inúmeras fábricas de roupas deste local. Ele e seus irmãozinhos foram feitos para lembrar a cidade de Fortaleza capital do Ceará, e, portanto, na sua parte frontal ganhou uma inscrição bordada com o nome de Fortaleza.

Alguns dias após ser criado ou nascer, foi enviado para o centro de artesanato da cidade de Fortaleza, onde ficou exposto em uma pequena loja. Lá todos os dias ele via algum de seus irmãos ganharem alguma família ou dono. E ele torcia para ser comprado por uma boa família, que o cuidasse, o amasse e pudesse participar de todas as aventuras desta família, afinal, ele era um chapéu de aventureiro e explorador.

Certo dia, depois de muito tempo esperando, chegou até a loja uma família de pele bem branquinha. Ele, e o vendedor da loja logo pensaram que fossem estrangeiros e não falavam sua língua.

Porém eram brasileiros e moravam no Rio Grande do Sul. Eram branquinhos daquele jeito, por serem descendentes de imigrantes alemães que no século XIX, emigraram para o Sul do Brasil.

Eles estavam viajando de férias pelo Ceará, conhecendo e curtindo o famoso Beach Park um gigantesco parque aquático, e neste dia faziam um passeio pela capital Fortaleza. Os dois meninos da família precisavam de chapéus, pois o sol nesta região é muito forte e a pele desta família muito branquinha.

Quis então o destino que o Chapéu, e seu irmãozinho ainda menor fossem comprados por esta família, e mais uma vez o Chapéu viajou, agora para o sul e de avião.

Ainda em Fortaleza, conheceram o Chapéu colorido, bonito, com várias imagens de super-heróis, imitando uma revista em quadrinhos e mais com protetor UV, realmente um chapéu diferenciado, que era do menino mais velho, aquele que havia ganho o novo chapéu personagem desta história. Este chapéu, mais posudo, logo ficou com ciúme do novo chapéu e não deixou seu novo dono, usá-lo. Então o chapéu aventureiro, embora tenha ganho um novo dono, não era muito usado.

Porém, um certo dia, uma tragédia aconteceu. Em um dos passeios da família, onde novamente o chapéu aventureiro ficou em casa, e o chapéu colorido foi o escolhido pelo menino. Eles foram para Torres, uma praia do Rio Grande do Sul. Lá visitando um apartamento que a família estava comprando, uma rajada de vento sopra o chapéu da cabeça do menino e este sai voando mundo a fora. Nunca mais o chapéu colorido e posudo foi encontrado.

A partir desta triste tragédia, que deixou o grupo de chapéus da família muito triste, o Chapéu aventureiro começou a ganhar mais uso e espaço. Porém ele não ficou muito tempo com o irmão mais velho. Pois o irmão mais novo cresceu, e o seu chapeuzinho foi doado para quem precisa.

Então os dois irmãos que nasceram juntos em uma cidade do interior de Pernambuco foram separados para sempre.

E o Chapéu aventureiro ganhou um novo dono, o menino mais novo da família.

A partir daí o Chapéu aventureiro viajou e conheceu muitos lugares, cidades, estados e países diferentes. Viajou para Patagônia, para Terra do Fogo, para o Atacama, para Portugal, para estados vizinhos do Rio Grande do Sul, foi diversas vezes para praia em Torres e praias dos estados vizinhos. Foi muito usado na piscina da família.

Até que um dia a família decide viver na estrada, morando em um Motor Home. O Chapéu acompanhou seu novo amigo, e conheceu inúmeros interessantes e lindos lugares, como Vila Velha e Buraco do Padre no Estado do Paraná, Interior de São Paulo, como Engenheiro Coelho em Lindo Camping, Holambra e a cidade de Itatiba, onde dali conheceram o circuito das águas. Revisitaram Tiradentes em Minas Gerais, Nova Lima, onde conheceram como funcionam as minas subterrâneas, conheceram a Capital Belo Horizonte. O museu Inhotim, o maior museu a céu aberto do Mundo. Pedalou com o novo dono na cidade de Lagoa da Prata, e passeou muitas vezes entre os lindos e antigos carros em Araxá na exposição de carros antigos. Conheceu Uberaba, e dali rumaram para Goiás, onde junto com seu novo amigo, tomou banho de águas quentes no Rio Quente. Visitou diversos museus e monumentos na Capital do Brasil, Brasília. Tomou banho em Rio Azuis, o menor Rio do Mundo, no estado de Tocantins. Também nesta região conheceram as lindas “Serras Gerais de Tocantins”, de águas puras e cristalinas. Finalmente conheceu as incríveis pinturas rupestres da Serra da Capivara com mais de 11 mil anos. Percorreu e se banhou no Rio São Francisco e conheceu diversas cidades de suas margens, entre elas Remanso, Sobradinho, Juazeiro, Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Belém do São Francisco e na cidade de Paulo Afonso tiveram uma aula do Sr. Zé no complexo hidrelétrico de Paulo Afonso. Conheceram a histórica Piranhas onde a cabeça de um famoso bandoleiro Lampião e sua esposa Maria Bonita foram expostas após serem mortos com seus companheiros. Nesta cidade tomou diversos banhos nas geladas e perigosas águas do velho Chico. Dali foram a Aracaju, onde conheceram novos amigos e tomaram muitos banhos juntos na piscina do condomínio que estiveram. Foram a Penedo e conheceram a Foz do São Francisco, quando então começaram a percorrer o litoral Nordestino. A partir desta paisagem o Chapéu aventureiro começou a achar que já conhecia ou lembrava destas paisagens. Sim, em local muito parecido com este ele havia ficado por longo tempo, esperando um dia ser comprado.

O Pequeno Chapéu Aventureiro, com o nome da cidade Fortaleza, voltava ao seu Nordeste, 10 anos depois de ser comprado pela família que vinha do Sul.

E assim, nestas descobertas lindas, o Chapéu e seu menino, viviam felizes, apreendendo e se divertindo muito em família, no seu Motor Home e nas cidades que paravam para conhecer.

Um dia em um lindo lugar repleto de falésias altas e vermelhas, com um mar lindo, banhado pela lua cheia, um mar de marés altas e baixas que mudavam profundamente a paisagem a cada 6 horas, foram se divertir no mar.

Neste dia os meninos queriam muito enfrentar as ondas, e lá foram eles para as fortes ondas de uma maré ainda vazante. Riram, e se divertiram muito.

Porém quando estavam saindo da água uma onde muito forte quase os derruba, e leva o pequeno chapéu aventureiro. Não foi possível salva-lo, pois com esta onda eles acabaram caindo sobre uma pedra tendo que se dedicar a tentar sair desta encrenca. Ao fazerem isso, com as fortes ondas, o chapéu se afastou não sendo mais possível resgatá-lo. Ele ainda foi visto uma última vez.

A família, especialmente o pequeno companheiro do chapéu ficou muito triste com esta despedida. Ainda ficou um bom tempo observando para ver se o mar devolvia seu companheiro, mas o mar não o fez.

E assim ficou o chapéu de tantas aventuras perdido no mar.

Alguns anos se passaram, e uma outra família visita uma praia vizinha a Pipa, onde o chapéu foi perdido.

Lá havia um restaurante, de um pescador, à beira da praia, muito bacana, feito de paus roliços de madeira e de telhado de palha, muito típico, com diversas decorações, pranchas, lixo reciclado que viraram “obras de arte”, e na sua entrada um boneco feito do tronco de coqueiro, que vestia uma regata surrada, do homem aranha, e na cabeça feita de coco já sequinho, e os cabelos de palha das fibras deste coco, tinha um chapéu.

O Chapéu aventureiro, de tantas histórias e viagem.

Ele estava ali agora.

Não mais viajava, mas diariamente conhecia gente do mundo todo.

A família que ali chegará, alguns anos depois era composta por um casal e um menino cadeirante. Este menino, muito observador, sonhador, que sonhava com histórias fantásticas, em que percorria o mundo, conhecendo cantos e recantos, ficou por muitos minutos na entrada daquele restaurante olhando para aquele boneco e especialmente para aquele chapéu com ar aventureiro, cansado e surrado pelo tempo, pelo sol e pela água do mar.

O menino, de alma livre imaginava e se perguntava nas histórias e aventuras que aquele chapéu havia vivido, e por um momento achou que já o conhecia.

Ficou por alguns segundos viajando nestas aventuras e pensou ter visto o chapéu ganhar vida e numa fração de segundos, com aquele ar de cumplicidade dos que a muito tempo se conhecem viu o esfarrapado chapéu, dar uma piscadela com seu olho imaginário.

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