Dia 160 - 24/11/22 - Quinta-feira - Costa do Dendê

Despertei 5:30, decidimos nos deslocar a Praia do Sargi, onde por sugestão do Silvan, encontraríamos o camping Paraíso. Alcançamos a BR 101, no começo bem precária, para mais a diante ficar melhor, mas com movimento de caminhões. Tomamos nosso café no posto do local que não lembrei de registrar ou pedir o nome. Seguimos e passando a cidade de Tacanha, um cruzamento nos fazia entrar na rodovia BA 542, e nos levava de BR 101 a BA 001, na cidade de Valença. Ali iniciava uma rodovia, estreita, nem tão boa, com subidas descidas e muita natureza, verde, florestas e calor úmido. Estávamos na mata atlântica e seguindo para o que foi denominado de Costa do Dendê, este azeite feito da fruta de uma palmeira, muito usado na Bahia. Encontramos então a cidade de Valença, e uma nova Bahia e um outro Brasil se mostra, do ponto de vista do bioma, da cultura e das pessoas. Estávamos em uma média cidade ribeirinha, em meio a mangues, rios, florestas. Uma cidade de ruas estreitas, casas humildes, sem rebocos, construídas no limite da rua, também imagens cinematográficas, mas que lembram aqueles filmes que querem retratar o terceiro mundo, ou alguma republica sul-americana, ou o que foi pejorativamente denominado de república das bananas. Logo que cheguei a cidade um aviso por um morador local de que a rua principal estava interrompida, fazendo com que pegássemos um desvio. Quando novamente alcançamos a rodovia do Dendê (nome que eu estou dando), ou BA 001, as banquinhas de Dendê, frutas, mel, e outros se mostram. Parei para comprar um mel, caríssimo, mesmo com desconto. Ali com a explicação do vendedor, morador local, me dei conta da geografia do local. Estávamos ao lado, ou muito próximo, de Morro de São Paulo, localizado na ilha de Tinharé (mais uma novidade, pois sempre achei que o nome Morro de São Paulo também designava a Ilha). Eu estava ali descobrindo uma geografia complexa, feita de mangues, canais, modestas rodovias de asfalto e ramificações em terra que ingressão na mata, dezenas de povoados afastados, incluindo inúmeros quilombos e isolados e em meio aquela mata de florestas gigantes, a direita da rodovia e muitos quilômetros de manguezais, a esquerda. E a praia somente nestas ilhas, separadas do continente por canais. Quase não possível identificar pelo google maps que são ilhas. Eu ainda não havia me detido com cuidado, ou mesmo relacionado a forma como estes intrincados componentes se mostravam na realidade. Ali descobríamos uma nova face deste país, um novo bioma, uma nova paisagem e geografia. Não tínhamos visto estes componentes ainda em toda a viagem. Realmente o litoral baiano se mostrava singular. Não era mais o Nordeste, com sua aridez, mas sim florestas tropicais úmidas e gigantes, além de manguezais também enormes. As cidades em meio a estes componentes, espremidas no mangue, entre rios, canais, florestas eram também um cenário singular, difícil de descrever, que se completavam com o calor úmido, característico deste bioma. Fiquei com muita vontade de explorar mais detalhadamente tudo isso. E coloquei na lista de mais um local a ser revisitado, afinal, agora passávamos de forma muito rápida. Na cidade de Camamu, as margens do Rio Orojo, nos confundimos entre as informações do google maps e placas, o que me fez ficar muito irritado e brigar com a A Adelaide que me induziu com a melhor das intenções a seguir as placas. Foi uma decisão rápida que tive que tomar, que me pareceu equivocada, o que me irritou, pois fico (imaturidade de minha parte), muito incomodado com as observações dela, quando estou concentrado no trânsito. Mas tudo acabou bem, apesar da tensão de ruas estreitas e movimentadas. Finalmente chegamos ao Camping Paraíso na Praia do Sargi. Lá combinamos o valor de R$ 40,00. Super bem estruturado. Eu estava exausto com dor na perna em função da necessidade de debriar marcha. Foram 330 quilômetros que necessitaram de 8 horas de viagem. Alcunhei como o dia mais cansativo da jornada humus, embora paradoxalmente, um dos mais instigantes em termos de geografia.